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domingo, março 26, 2006

Árvore


De pie, solo e inmutable,
Uno puede observar todos los misterios,
Presentes en cada momento y que siguen incesantemente:
Esta es la puerta a las maravillas indescriptibles.

Lao Zi (Lam Kam Chuen)

Começando o dia


Percebo que manter a saúde é uma tarefa diária; alimentação, cuidados físicos, mentais, afetividade, organização no trabalho, família, amigos, espiritualidade. Não me parece muito fácil, principalmente quando a meta é a cura. Meus males, só eu sei. Os males de cada um.
A base do MAC é uma linda metáfora visual da sustentação. Estar ali em meio à percepções variadas: luminosidade, movimento, ruídos, e a sensação de 360 graus, dada pelo Tai Chi. Enquanto for possível, estarei lá pela manhã.
Foto com Chang
Ótima semana
Angel!

Pórticos



Portais são fascinantes.
Este aí como prometi é a entrada do Parque Lage. No interior a piscina e as salas, com o café ao fundo. A foto do Cristo Redentor ficou muito escura, não coloquei
Dei carona para a nissei que pinta comigo. Ela é, na verdade, japonesa. Deixou Tókio aos 25 anos. Não suportava o comportamento e o modo de vida dos japoneses. Talvez ela tenha alma de brasileira.
Fazer parte de um outro povo, trazer parte de sua cultura e mesclar à cultura local.
Promete uma boa amizade
Angel

terça-feira, março 14, 2006

Conversas ao pé da pia

Só há uma pia no Parque Lage destinada a lavação (como se diz em Floripa) de pincéis. Ao pé da pia é onde nos apresentamos. Enquanto retiramos os resíduos das tintas e vemos a água escorrer colorida surgem perguntas esparsas, apresentações e aos pouquinhos as pessoas vão se revelando. Conheci Julieta, Gustavo, Chico...os pincéis precisam ser lavados constantemente, é sempre assim. Julieta perguntou-me se sou estrangeira, acha que tenho um sotaque. Digo que sou mineira mesmo, há muitos anos no Rio. Ocasionalmente alguém estranha minha pronúncia. Eu mesma tenho sentido assim e percebo que há uma íntima relação com minha perda auditiva. Minha audição é para mim, um tormento. Imagino que se alguém pudesse de uma hora para outra, entrar em meu corpo e "ouvisse" da forma que hoje ouço, enlouqueceria. Sei do que estou falando, pois fui perdendo a audição gradativamente. Hoje pequenos ruídos percebo como estridentes, e sons muitos altos como uma vibração muito incômoda em todo o meu corpo. Só discrimino do lado esquerdo e quando alguém buzina do lado direito tendo a olhar para o lado esquerdo. Foi assim no domingo passado, dois caras buzinaram no sinal, levei um susto e olhei para o lado contrário, quando meu cérebro deduziu o lado certo, eles estavam rindo para mim. Ri de mim mesma e de quebra dei uma paqueradinha. Entender o que acontece é um desafio diário que me deixa exausta ao final do dia. Exposta como estou a todo tipo de estímulos; pacientes afásicos, mulheres falando juntas, trânsito, músicas que sinto pelos poros...perdi a noção do que realmente ouço e o que é ruído de fundo. Geralmente quando não discrimino pergunto a alguém:- O que foi isso? Uma criança gritando, dizem-me, algo que ouço como um apito.
Vi algumas pessoas queridas ficarem surdas (todas falecidas), minha avó, meu hepatologista (o melhor do RJ), meu grande amigo Hélio Barbosa que me iniciou na política social da Associação dos transplantados pelos idos de 87. Somente minha avó não disfarçava. Ela respondia o que dava, quando dava, respondia ecologicamente digamos assim. Frente à vida profissional, social, de relações, não tenho muitas saídas. Procuro não cansar muito meu interlocutor e também a mim mesma, mas dou muita mancada. Como não consigo dissimular, muitas vezes, páro tudo que estou fazendo e me aproximo e vou logo dizendo assim:- Preciso chegar mais perto de você. Leio imagens em movimento, faço associações, invento outro tanto. Começo realmente a acreditar que sou uma pessoa criativa.
Ouço o meu ruído interno, meu adorável pano de fundo, e fotografias do mundo dos sons.
Cochichos ao pé do ouvido, galanteios, sons naturais, piadas, música sem distorções, ruídos sem dor, um mundo sonoro que ficou em algum lugar na minha memória auditiva e que vai se afastando aos poucos.
Ouvir, não ouvir, espaços vazios e cheios, reticências, pausas, respiração em suspenso, ansiedade.
Começo a assumir minha impotência frente a tudo isso. Deixo ir e vir.
Sempre admirei minha avó, meu hepatologista e meu amigo Hélio Barbosa, então saibamos viver com nossas limitações
...
Voz pausada, que me olha nos olhos e espera por minha resposta, conheço alguém assim
Hora de ir embora, havia um gato dentro da carroceria do carro
Angel

sábado, março 11, 2006

Pensamentos de volante



Penso muito quando estou caminhando, penso muito quando estou dirigindo. O movimento constante favorece, a mente corre solta, idéias em profusão, tudo é motivo. Um rapaz quase atropelou meu carro na Leopoldina, esporte radical.
Alguns desejos tornam-se realidade, outros ainda não. Imagens mentais em movimento.
Ontem consegui respirar como nunca. Primeiro dia de acupuntura. O clínico geral que não é chinês foi "abrindo os chacras", esclareceu-me depois. Tornozelo, parte lateral da perna, e por aí vai. Eu já estava sentindo um algo meio estranho quando aproximou-se do chacra esplênico e...mal colocou a agulha entrei num choro convulso. Constrangimento. Pergunto se é assim mesmo, mais choro, ouço algo como " sua energia está circulando", deixei circular. Ele apagou a luz, me deixou na base do incenso e da música indiana e saiu fora. A coisa não ficou por aí. A energia decidiu circular no chacra laríngeo também, relaxei para não sufocar...A energia deve ser sábia. Quando percebi estava fazendo uma respiração diafragmática como há muito não fazia.
Minha energia precisa mesmo circular
Queria estar dentro do bar Egípcio

Angel

terça-feira, março 07, 2006

Parque Lage e Corcovado



Depois de quinze anos retornei às aulas de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage!
Fiquei exultante, as aulas são noturnas, depois do trabalho, tudo bem, de 19:30 ás 22:00 hs. Saí cheia de energia, revigorada!
O parque Lage é uma área árborea contínua desde a base do Corcovado indo até a Rua Jardim Botânico.
A casa principal data de 1849, onde morou Henrique Lage.
Ao lado, o pórtico de entrada (depois vou postar algo mais diurno e focado). No interior tem um pátio central todo aberto com uma piscina. Olhando para o céu, Corcovado e lua crescente. Lindo! Lindo!
E-motion!
O lugar é quase tudo
No interior um café, ateliês ladeando a piscina, cursos e Workshops
Nas aulas, artistas como professores, claro.
Tem um grupo cabeça que deve ser da EBA/UFRJ, com certeza. Só pintam cabeças. Cabeças abertas, se engolindo, aquelas coisas. Na minha turma tem uma nissei que emendou o Workshop das férias com o curso, outra moça novinha, bem branquinha, com ar bastante deprimido, que só pinta cruzes (os trabalhos ficam expostos, deve ser da turma das férias tb). Dois caras cabeça, uma senhora que não consegue "entender" o que o professor "fala". Iniciantes no curso só eu e uma criatura muito simpática que foi pra aula impecavelmente trajado de terno preto. Sua gravata Valentino jogada sobre os ombros. Já domina a pintura em acrílica. A proposta de trabalho foi pintar 4 configuraçãoes de estilos diferentes sobre papel. Depois tivemos de trocar duas e criar uma nova montagem por meio de colagem. Foi a melhor parte, reconstruir com base no trabalho do outro. Tive grande prazer em rasgar, misturar e colar tudo aquilo, que deixou de ser o que era para ser o que não era. Sentimento de desapego, desapropriação e apropriação. Um mix de emoções e pensamentos de gente. Todos deveriam ter um processo criativo em suas vidas. se puder ser no Parque Lage, tanto melhor!
Quem quiser conhecer a EAV clique no título
Beijinho e ótima dia!
Angel

domingo, março 05, 2006

Frida Kahlo's Blue House







Os dramas são mesmo universais, e o corpo humano, um laboratório alquímico onde se elabora o sofrimento, o prazer e a sublimação
Frida Kahlo é meu sonho de consumo como mulher artista plástica.
Clique no site e veja como arte e vida são inseparáveis. A casa azul onde ela morou por muitos anos e hoje está aberta ao público. O local externa o espírito da artista.

Angel

sábado, março 04, 2006

Caderno de poesias

Olhem só! Tem um inseto no meio das pedras, a bolinha alaranjada. Tentativa frustada de fotografar com o celular. Mas gostei do resultado final, uma distorção interessante, embora não fosse proposital
E tem sido assim... reconstrução diária.
Busca de novas possibilidades, de olhar o velho de outro modo
Reformular lembranças até deixá-las doces ou neutras (sei que não há neutralidade, mas ao menos lembranças mais mornas)
Lembro-me de um rapaz que atendi há muitos anos atrás, na verdade ele foi meu primero contato com alguém com sequelas de traumatismo raqui-medular. Ele havia sofrido um acidente automobilístico e lesou a medula à nível da sexta vértebra cervical. Seus movimentos limitavam-se a cabeça, ombros, antebraços e punho. Da linha do tórax pra baixo, incluindo mãos, nada, nadinha. Nenhuma sensação, nenhum movimento. A evacuação um sofrimento, xixi só com sonda e jontex. Vida social, lazer, ocupação e sexualidade...enfim, ele quase não saía de casa e era completamente dependente de seu irmão mais velho (também muito jovem). Moravam com a mãe. Precisava fazer uma visita domiciliar para orientações a família e fazer uma adaptação que lhe permitisse segurar um lápis para escrever utilizando o movimento do punho.
Ele estava numa cama hospitalar e logo soube que permanecia ali grande parte do tempo. Tirei as medidas das mãos, e comecei a fazer a adaptação. Foi quando ele pediu para que seu irmão trouxesse seu caderno de poesias. E o irmão trouxe, e Francisco leu. Leu uma, leu outra, eram bonitas, eram lembranças de um tempo que ele não queria esquecer. Era o que queria me oferecer naquele momento. Sua identidade, algo muito além de limitações motoras e sensoriais, muito além da paralisia. Nos versos havia movimento, sensibilidade, memórias de um passado que tornavam o presente mais suave.
Havia muito por fazer, ele precisava adptar-se a sua realidade atual, motivação, vida social, sim eu sei, mas naquele momento deveria tê-lo ouvido mais. Eu pensava em "devolver-lhe" a escrita e que o tempo era curto e, e, e.....
Resta dizer que não ouvi o tempo suficiente, ou melhor acho que deveria ter "esquecido" todo o resto e ter me sentado ao seu lado colocando-me a escutar suas poesias. Qualquer outra coisa poderia ter ficado para depois (provavelmente eu era a sua única "visita" há anos). Era tão claro o seu desejo.
Por quê temos a tendência de não ver o óbvio?

Angel

quarta-feira, março 01, 2006

A outra margem


A margem do outro, do estar com outro, ainda está muito distante, temos dificuldade em com-partilhar.
Foram muito poucos os que tentaram e deixaram profundas marcas na humanidade
"A outra margem" (detalhe de uma pintura que terminei hoje) é uma tênue tentativa de expressar ambiguidades, opostos e complementaridade, mais que isso uma possibiliddae de estar próximo àqueles que se foram ou perderam algo que muito lutaram por conseguir.

Angel