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sábado, julho 26, 2008

Implantei!!!!

Ontem morreu Randy Pausch, o professor americano que tinha câncer no pâncreas. A aula dele foi linda não? Quem ainda não assistiu pode acessar a "Ultima aula" no youtube, ou versão em livro. A questão é que o cara fez uma aula sobre o valor da vida e da alegria, para deixar para os seus filhos, para que eles assistissem. Um réquiem pós-moderno.

Na quarta feira passada (16-07-08) foi o dia da cirurgia do meu implante coclear. ou ouvido biônico. Foi uma cirurgia do tipo marca-remarca, devido à problemas de autorização do plano de saúde (acabei operando sob liminar) e devido às minhas plaquetinhas que vivem em baixa.
Tenho feito todo o meu acompanhamento para o implante na Fundação Otorrino laringologia (FORL) do HC/FMUSP e na UFRJ (saúde auditiva) e foi no HC que operei.

Foi uma experiência difícil do ponto de vista clínico. Como realizar um cirurgia sem fator de coagulação? Não era a primeira vez, é certo, mas para aquela equipe era a primeira vez. Foi mais uma tentativa de convencimento sobre a minha condição de saúde do que a dificuldade inerente ao procedimento cirúrgico em si. Acabei operando com uma taxa muito baixa de plaquetas e não sangrei. O sangue define, sempre. Minha marca.

Penso que houve uma conjunção de fatores naquele dia que resultaram em sucesso.

Na semana anterior, quando a cirurgia havia sido cancelada, eu estava muito receosa e com medo. Tudo me parecia fora de lugar e inadequado. Quando sinto medo assim não é bom continuar. Então houve o cancelamento. Bate boca no centro cirúrgico (claro que só vi, não ouvi) e a anestesista julgou arriscado o procedimento com aquela baixa de plaquetas e sem sangue disponível no hospital. História longa, complicada como sempre, mas o fato é que precisava de concentrado de plaquetas filtrado por aférese, etc, etc e mais etc.

Pula

Fiquei aliviada, e no grande dia foi tudo muito diferente, tudo estava à favor.

Primeiro me depositaram na sala de espera próxima ao centro cirúrgico. A maca, velha conhecida, ao lado de um receptor de transplante de cadáver, o sr Francisco. Deu para desejar muito boa sorte. Preciso me lembrar de ver se correu tudo bem. Pensei: “Que maravilha- vai ter transplante!”

Meu cirurgia Dr Robinson Koji Tsuji veio me ver e me tranquilizar. Olhei para ele, sua boca se moveu. Seria hoje com certeza. Pergintei sobre o uso do DDAVP ( um tipo de "medicamento"utilizado em situações hematológicas como a minha). - Não vamos usar, só abaixo de 40.000 plaquetas. Senti o peso da responsabilidade, a aminha pois meus exames estavam em torno de 39.000 plt e da dele, responsável pela delicada cirurgia que iria mudar a minha vida. Respondi- Pode contar comigo.

Em poucas horas 200 anos de tecnologia, desde Alessandro Volta até o último modelo da Cochlear estariam dentro de minha cabeça.

Dentro do centro cirúrgico fui super-bem recebida por todos, e até a iluminação estava ótima. Dr Koji sempre me passou muita confiança e sinto que trabalhamos em conjunto. A equipe da Forl tem boa escuta, eles sabem ouvir e isso tem sido ótimo.

Acompanhei os procedimentos dentro do centro cirúrgico, os aparatos ao redor, minha RM no negatóscopio sendo discutida entre os cirurgiões e meus segundos antes de apagar:

- Vc fez o anestésico? Perguntei.

-Sim, "respondeu" o anestesista.

-Ok, estou indo. E apaguei.

Ao acordar vi Dr Koji ao meu lado:

- Testamos seus eletrodos e estão todos funcionando!!!!Disse alegremente

-Sim claro, que maravilha. Devo ter dito, com todo aquele curativo na cabeça, uma mistura de Carmem Miranda com maluco beleza. Voltei a apagar e só acordei no quarto onde minha mãe me aguardava com suas preces

Minha orelha dói bastante ainda. Pensei que o pós fosse mais light. Não gosto de tomar muito remédio, então estou agüentando por aqui, ocasionalmente um Paracetamol prescrito. Uma sensação de oclusão na orelha direita, pudera, está cheia de eletrodos grudados na minha cóclea.

Estou com uma vertigem bem bacana tb. Não tá dando para abaixar a cabeça senão....o corpo vai junto. Caminhadas e Tai Chi, são o meu remédio.

Blz, vou voltar a ouvir então.

Bip, bip !!!

Angel

A imagem no topo é de uma cerâmica que fiz, a última antes da cirurgia e que presenteei o meu cirurgião. Um concha, com som de mar e tudo! Incrível, do silêncio criar um som.