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quarta-feira, abril 26, 2006

Dia Mundial do Tai Chi Chuan & Chi Kung




Dia Mundial do Tai Chi & Qui Kung

Será no dia 29 de Maio
Vejam a programação no link
http://www.fotoserumos.com/aipt_dmt_2006.htm

Abraços a todos

Angel

domingo, abril 23, 2006

Supermercado de órgãos


Chamada da Revista Época desta semana: “Supermercado de órgãos. Uma corrente de médicos dos Estados Unidos defende a compra de rins e fígados para transplante. O Brasil deve entrar nessa?

Vou tentar blogar de forma mais “imparcial” possível . Quem quiser pode postar suas opiniões a respeito.

A reportagem levanta a questão da doação remunerada de órgãos como uma possibilidade de redução da fila de espera e regularização do comércio hoje existente. A polêmica começou nos EUA por meio de um artigo de um médico transplantador chamado Eli Friedman que defende a idéia da criação de uma agência governamental para intermediar as transações entre compradores e vendedores. Ele acredita que as campanhas de doação de órgãos, embora sistemáticas e intensas nos EUA não foram suficientes para a redução da fila de espera dos receptores e, já que estes estão comprando órgãos em países em desenvolvimento, então que isso ocorra sob os olhos da lei, fornecendo amparo a dupla doador (vendedor de seu rim, parte de fígado, etc) e receptor (aquele que vai desembolsar segundo cálculos do economista prêmio Nobel de Economia, a quantia em torno de US$ 40 mil).

Vejam as opiniões que foram coletadas acerca das possibilidade de justiça em transações como essa (doação remunerada):

A nefrologista Cristina Castro presidente da ABTO acha que “Regulamentar as vendas é manter a desigualdade: os países em desenvolvimento vão continuar fornecendo órgãos ao primeiro mundo”.

O cirurgião Silvano Raia (transplantador pioneiro de fígado inter-vivos): “Assim como o comércio de órgãos, o estupro é ilegal e continua acontecendo. Nem por isso deve ser regulamentado”

A questão da autonomia e liberdade individual é levantada por Volnei Garrafa, que sustenta que o direito de fazer o que quiser com seu próprio corpo tem suas bases na bioética anglo-saxã: “A autonomia virou um princípio acima dos outros três, que são a beneficência, a não maledicência e a justiça”. A opinião de uma provável receptora de transplante de fígado alia-se ao discurso da autonomia e ela questiona que se uma prostituta vende o corpo, porque uma pessoa não pode vender um órgão e salvar alguém?”. É de se pensar, embora saibamos que não há nenhum altruísmo na venda de órgãos.

A questão da doação remunerada deve cair em breve na boca dos brasileiros já que é uma idéia que irá criar muita polêmica.

Passei oito fazendo hemodiálise, estou no terceiro transplante renal (nenhum comprado!), fui presidente de duas associações de renais e acho saudável e inevitável a discussão sobre a doação remunerada. Questões relevantes foram evidenciadas na reportagem por meio das entrevistas. Só ficou faltando entrevistar os receptores que conseguiram um órgão por meio de comércio, pois este tipo de transplante não costuma resultar em sucesso e desencorajam o receptor a tentar um novo transplante. Outra questão que ficou de fora é a prática de transplantação remunerada na qual são oferecidas em consulta médica a expectativa de um transplante de cadáver num período aproximado de três meses mediante pagamento. Embora pudéssemos entender que o pagamento fosse destinado a remuneração da equipe fora da rede pública, transplantes de cadáver só podem ser realizados por meio do SUS e o prazo de espera é em torno de, no mínimo dois anos. Felizmente isto não é a regra, mas mostra que não é só o doador remunerado que age de forma mercantilista.

Nunca conheci um receptor que tenha pago diretamente a alguém pelo órgão transplantado. Gostaria de conhecer, pois acho ainda mais grave, embora reconheça que esta atitude seja apoiada no desespero. Também nunca tive contato com alguém que vendeu um órgão. Já vi anúncios pelos idos de 85-86 de venda de órgãos. Gostaria de saber o que move essas pessoas a vencerem o medo da cirurgia, a perda de uma parte de si, por um bom punhado de papel. Acho, a princípio, difícil acreditar que esse tipo de doador esteja generosamente interessado em salvar a vida do receptor, visto que não há uma relação de amizade, compaixão ou algum sentimento motivador deste tipo. A população de receptores pobres (a maioria) não poderá pagar por um rim ou pedaço de fígado saudável. É, portanto, um comércio desigual. Na fila continuarão os pobres sofrendo ainda mais em seu tratamento conservador visto que o repasse de verbas para hemodiálise já está bastante defasado e tenderia a cair ainda mais, pois pobre não tem voz nem vez. E, uma vez legalizada a compra e venda de órgãos, quem alimentaria a demanda desse comércio?

Acredito que o caminho está no fortalecimento dos sentimentos de compaixão e do altruísmo

Pegando carona na proposta de Leonardo Boff, que reza que tudo se mantém religado num equilíbrio dinâmico, e também nas palavras de Isaltino Neto, que vai doar parte de seu fígado para uma amiga, (entrevistado pela revista Época): “- Jamais teria coragem de vender um órgão. Faço isso por solidariedade”. Já ouvi, senti e acreditei nisso três vezes. Sei que muitos amigos meus, renais crônicos, não compartilham da comercialização de órgãos, apesar de todo sofrimento inerente ao adoecer. Acho que para aqueles que acreditam que sua vida está ameaçada e preferem comprar um órgão, é preciso lembrar que todos iremos partir um dia, mas seria mais bonito refletir antes sobre a condição que a vida lhes impôs sobre o doar e receber.

Comentando a imagem, trata-se do rim de minha doadora no momento em que estava sendo preparado pelas mãos do cirurgião para ser transplantado em mim.

Beijos, Angel.

sexta-feira, abril 21, 2006

Fale com ela


Fui ao Mac ver a exposição de Miro. Muito bela e inquietante, signos convidativos, cores primárias e traços. Síntese e essência. Numa entrevista com Niemayer ele afirmou: “A arquitetura deve emocionar e ser bela.” E assim é a arquitetura do MAC. No pátio externo uma semana de filmes de Almodóvar. A projeção num telão tendo o céu como cenário coadjuvante. O filme: “Fale com ela”. Relações humanas de peso, touradas e balé. A fotografia belíssima como deveria ser. Até mesmo as cenas do hospital são carregadas de poesia, emocionam. Toda narrativa do filme segue um contra fluxo, no sentido da morte para a vida. Uma bailarina entra em coma após um acidente e um enfermeiro conversa com ela diariamente mesmo sabendo que ela não pode responder, o que não significa que ela não pode entender. Almodóvar estabelece relações complexas entre os personagens, teias de emoções com uma cronologia nada convencional. Arrependimento e culpa, remorso, sentimentos muito presentes em nossas vidas. Há símbolos e signos muito pregnantes: camas hospitalares, janelas, touros, cadeiras, uniformes e vestimentas. Cada objeto nos remete à lembranças também muito significativas.
A arte, acima de tudo emociona, coloca em movimento. E cá estou movimentando meus dedos sobre o teclado tentado expressar que não há imparcialidade em nada, que cada ato repercute sobre os outros, que podemos nos calar, duvidar, odiar, amar ou criar uma realidade outra senão aquela que parece ser a única possível. Poderia dizer isto de várias formas, bem senso comum:
Vivemos num mundo de ilusões.
Nem tudo é o que parece ser.
Não julgueis.
O preconceito é uma droga.
Ninguém vive sem máscaras.
Vivemos para ser o que não somos, e nossa essência é algo que conhecemos muito pouco.
Almodóvar trata de situações possíveis e impossíveis, isso é arte. A expansão de nosso restrito universo.
Queria ter tido a possibilidade de dizer a Fernando. Cheguei à conclusão que sua incapacidade de lidar com uma situação que definiu como “algo que não podia modificar” não era um problema meu de fato, era problema dele. Penso também que o filme de Almodóvar me ajudou a entender que a incredulidade humana é algo construído culturalmente, assim como o preconceito e tantas outras amarras (na maioria das vezes bem convenientes). Fiquei muito tempo no limbo flertando com a vida e a morte. Meus últimos vinte anos foram construídos sobre um terreno de situações limite. Em vários momentos, situações muitos difíceis eram revertidas e as soluções apareciam oportunamente. Não descarto a fé e não costumo deixar tudo a cargo dos Santos, mas acredito também em pequenos milagres.
Em “Fale com ela”, uma das representações do amor são os encontros e desencontros. Bem atual.

Angel

domingo, abril 09, 2006

Mãos em movimento II













Maõs que chamam, que dissimulam, que ultrapassam barreiras, que brincam...
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Mãos em movimento I




Mãos em transparência, que contam muitas histórias, ambíguas, que descem como serpentes rastejando
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sexta-feira, abril 07, 2006

Imagens da semana!





Parque Lage com chuva e sem chuva, lindo de qq jeito!
Aquela coluna tem umas volutas no estilo grego, mas nesta casa tem muita mistura
É um lugar romântico, muito romântico

Bjs, Angel

Juntando as partes

Começamos a criar quebra-cabeças, eu e minha irmã. Eu no Rio, ela em Floripa. Achei que seria interessante termos motivos adultos para tratar alterações da memória visual, atenção e funções visuo-espaciais. Temos Leonardo da Vinci, Vermeer e Van Gogh até agora. Rostos são um bom motivo. Quando conhecidos ajudam a testar gnosia para rostos. Aqui não há dificuldade no reconhecimento e sim na estruturação visuo-espacial, que pode ser observada na arrumação das partes da representação do quadro de Mona Lisa. Quando trabalho algumas posturas simples de Tai Chi com o Sr da foto, fica evidente a alteração de propriocepção, simetria e lateralidade e, assim, entre uma postura e a montagem de um quadro famoso vamos tratando, até chegarmos a conclusões bem simples do tipo: juntar as partes pode ser um processo bem difícil após uma lesão cerebral.
Eu que não tenho lesão neuronal nem nada (acho), também encontro difculdade na junção das partes no grande todo. Depois que comecei a acupuntura ficou claro que os bichos começaram a sair debaixo do tapete. Sentimentos e emoções que varri e escondi como mecanismo de defesa e até mesmo negação começaram a aparecer e foi ficando evidente que era hora de serem trabalhados. Vieram lembranças da época da separação e pude perceber claramente que havia mentido para mim mesma para suportar tanta dor num período que dor alguma poderia ser suportada, além daquelas que vinha carregando durante a preparação do transplante. Senti raiva, muita raiva. Tentei arrumar meus livros, minha sala onde atendo, meu carro, tudo que era material. Juntei meus livros espalhados e encaixotados desde quando deixei meu apê no qual morava com Fernando.
Tive coragem de abrir, arrumar e organizar meus arquivos. Mil papéis surgiram, história encaixotada. Fotos, muitas fotos. Meu álbum de casamento. Tarde de domingo, Janeiro, verão. Eu mesma escolhi o local. A Fortaleza de Sta Cruz na entrada da Baía de Guanabara. Havia a beleza arquitetônica harmonizada com o mar e o céu. Chamamos uma juíza e só houve civil. A mesa foi colocada em frente a capelinha do séc XVIII, que ficou com as portas abertas. Estávamos muito felizes. Lembro de olhar os rostos um a um. Meus pais,
minha irmã e cunhado, minha avó paterna, meus amigos...Quando olhei para Fernando vi amor e cumplicidade. Não temia, confiava em mim e nele. Apenas uma das muitas lembranças durante a arrumação.
Ao final fizemos uma pilha (eu e Dina) e colocamos fogo no lixo. Parte de minhas coisas estão no sítio de meu pai. Lá há muito verde. Ficamos olhando as labaredas. Deixa queimar. Coisas que não me servem mais. Não queimei o álbum, nem nenhuma de minhas fotos. Foi uma queima real e simbólica de tudo que Fernando "deixou para traz e nunca veio buscar". Coube a mim, arrumar e dar um fim a tudo: papéis, móveis, pratos, copos e talheres, porta retratos, tudo que há numa casa. Numa casa que fechei e somente agora consigo abrir. Meu tempo necessário.
Uma parte de duas vidas.
Antes de nos separamos, eu já havia voltado para a diálise, buscava uma forma de transplantar pela terceira vez, trabalhava no hospital pela manhã e na clínica à tarde e fazia meu tratamento das oito à meia noite.
Ele já estava com uma amiga nossa em comum e nunca me disse a não ser meses mais tarde quando eu perguntei. Tinha desejo por mim, chegou a falar em amor quando saiu, mas achava-se jovem demais. Fiquei esses dois últimos anos pensando - Jovem demais para quê?
Minha dor consiste em ver todos os dias meus diversos pacientes com problemas gravíssimos convivendo e partilhando suas sinas lado a lado, como marido e mulher.
Minha casa, meu templo, meu tempo

Angel

domingo, abril 02, 2006

Aniversário de um ano de transplante

Eu e minha doadora comemorando um ano de tx!

Ela é o meu oposto no ritmo, no ouvir, no falar, no agir.
A complementaridade dos opostos.

A data da cirurgia foi 30 de Março de 2005. Ela estava radiante, tranquila e firme em seus propósitos. Uma certeza que tudo já tinha dado certo
Um ano, um marco!

Angel
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