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quarta-feira, agosto 30, 2006

Urca!





Subir a pé e descer de bondinho, no meio, parada para um café com pão de queijo no alto do Morro da Urca. Sequência curta de Pequim
Agora só falta subir o Corcovado.
Imagens: Ilhas Cagarras ao fundo na praia de Ipanema e praia vermelha na Urca
Bjs,
Angel

sexta-feira, agosto 25, 2006

Tinha um Alce no caminho





Terminou hoje o Congresso Mundial de Saúde pública e o Brasileiro de Saúde coletiva, no Riocentro. De Lula à Mocidade Independente de Padre Miguel. Nosso mundo globalizado, desigual, de pobres muito pobres e ricos muito ricos. Muita Alma Ata, pesquisa e educação para conscientização de populações, bioética, hermenêutica e acabei de me lembrar das palavras finais do José Ayres da USP no painel muito concorrido coordenado por Fernando Lefèvre, “Produção na e da Saúde”. Dizia ele ao final: “Devemos pensar em qual é o nosso projeto de felicidade e qual o papel da saúde neste projeto”. Nosso projeto de saúde deve incluir a felicidade gente!
Hoje à tarde entrei na sala do debate de “Bioética, globalização e direitos humanos”, coordenado pelo Volney Garrafa e olha eu dando de cara novamente (ver postagem “palco da vida”) com um tetraplégico na ribalta. Achei ótimo, sentei e fiquei até o finalzinho. Então, o Steven Fletcher, primeiro deficiente físico membro do parlamento do Canadá deu seu depoimento que incluiu um atropelamento de um Alce que o deixou tetra nível C4. Claro que antes do acidente ele desconhecia os papos de deficiência, limitações, etc, mas, graças a um Alce teve sua história desviada para os rumos da superação. Entrou para a vida política e deu no que deu, hoje luta pelos demais. Uma luta antes de tudo consigo, com o seu corpo, velho desconhecido. Suas conclusões, também à elas cheguei. Custamos caro ao Estado, precisamos nos expor à sociedade para que compreendamos uns aos outros, devemos ser julgados pela nossa capacidade e não pela doença . Minha contribuição ao seu discurso: conquistar um espaço onde possamos ser livres para apenas existir como pessoa. E, para além de todas as limitações, integrar-nos num universo de incertezas que permitam o livre acesso à todas as possibilidades, e por meio de uma delas, vivenciar o espaço da leveza do espírito.
Imagens: Tem um Lula-lá no palco e Fletcher e sua super cadeira de rodas.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Solo




Recomecei o semestre no Parque Lage-” Da observação à expressão”. Utilizamos o desenho de modelo vivo para recriar o universo plástico. Atelier cheio, cavaletes, carvão, tinta acrílica. A superfície, papel.
Sim ! Estou no lugar certo. Meu chão, onde encontro raizes. Não pude seguir o caminho da arte como acreditei aos quatorze anos. Pintava onde alcançavam minhas mãos e meu pensamento. As paredes do quarto, portas, papéis, telas. Não era uma paixão, era uma necessidade. Do carvão à tinta a óleo. Três anos depois, fui “aconselhada” por um médico, a parar de pintar.
A modelo chegou, deve ter uns 24 anos, despe-se completamente. Começo a observá-la. Alonga-se sobre o o pequeno tablado. Um gato aparece. Gatos adoram corpos em movimentos suaves. Posta-se ao seu lado e determinado ficará quase até o término da aula, não sem antes desfilar sobre meus desenho dispostos no chão. Cada postura dura pouco tempo, apenas o necessário para uma mistura de desenho cego com esboço de formas. Ainda não há cor, somente o carvão. Passo para um olhar analítico, as posturas que ela permanece são complexas, os planos se cruzam, mas deixo a mão ir. Vou aos detalhes muito rapidamente. O contorno dos pequenos seios, penso, como os meus. Observo mais atentamente, quadris largos, há curvas definidas, um ou outro músculo pode ser delineado. O tempo para cada postura é curto. O principal é captar a essência, ao menos neste momento.
Notei quando cheguei que os cavaletes em frente ao tablado estavam vazios. Lá coloquei minhas coisas. Pior lugar para ficar
Meus olhos se deparam com os dela. Fico confusa. Quem observa quem? Sorrio, ela retribui. Está ali. Lembro-me novamente da essência, o que nos une naquele momento. A busca pela autenticidade. Quando perdemos nossa naturalidade? O frescor e a leveza da simplicidade?...Está descomplicando, graças a Deus. Mollica me ajuda com a melhor forma de explorar o carvão e a observar as linhas. Tudo para Kandisnky é ponto ou linha, ouvi Gianguido Bonfanti explicando na semana passada. Comentou o livro “Do espiritual na arte”, novamente Kandinsky, praticamente devorei o livro. Sabe, não sei degustar. Fruto da ânsia de viver. Vejo lá na pg 13 quando o autor fala sobre a ressonância: “essa ressonância espiritual, essa necessidade interior, constituem o princípio básico de todo trabalho criador. O pintor deve procurar antes de mais nada, entrar em contato eficaz com a alma humana, única garantia de profundidade cósmica da arte”.
....
Fui na exposição de Degas-O universo de um artista- no MASP. Segundo se depreende, Degas era um misógino, voyer de hipódromos, palcos, locais de banhos e bordéis. Há um universo de cavalos, bailarinas e mulheres no banho. Na seção de bordéis estão tb gravuras que Picasso fez sobre o comportamento um pouco "distante" de Degas. Observo dois universos diferentes sobre o mesmo tema e, Picasso, definitivamente me arrancou muitos risos. A obra central é uma escultura da pequena bailarina de quatorze anos. Não sabia que Degas foi um magnífico escultor. Essa bailarina, única obra de escultura exposta por Degas em vida, causou muita inquietação na época, leio. A bailarina é simples, olha para o alto e não para o observador. Está numa cúpula de vidro e veste saia de pano. Sim, ela é viva! É orgânica! Por isso veste e não é vestida. Causa inquietação pelos contrastes.Sinto-me completamente absorvida por ela. Unidas por um elo atemporal. A cúpula de vidro, conheço bem essa sensação. Exposição, caso clínico, alma em distanciamento, adaptação-desadaptação, distanciamento.
Parei no centro do salão do Masp, olhei todo o conjunto da obra, inclusive os demais artistas contemporâneos de Degas, ali presentes. Havia muita vida ali, voltei o olhar para a bailarina, o vidro.... Ela era a alma de Degas. Sua forma de estar no mundo. Tão à parte e tão imerso em suas observações. Olhando para si mesmo. Sua alma, seu olhar cósmico. Intocável.
Voltei a olhar a modelo. Momentaneamente nossos olhares se cruzaram.
Orlando Mollica comenta os trabalhos-“o desenho deve ser como a caligrafia, espontânea, a cabeça não deve interferir tanto”.
Preciso muito disto

Angel

quinta-feira, agosto 03, 2006

Homo cerebralis


Já não bastasse o Homo sapiens, faber, ludens, gubernator, agora vivemos a era plena do homem neuronal.
O cérebro é muito mais do que a soma das partes, ele é tudo!
O Congresso Internacional de neurociências e sociedade contemporânea no RJ está imperdível. E para não dizer que não falei de flores, a arte foi contemplada pela artista plástica Susan Aldworth que fez um contraponto com o sujeito cerebral e, pela médica e antropóloga (o currículo é muito extenso), Margareth Lock.
Margareth mostrou as obras de um artista plástico belga, William Utermohlen que por meio de suas pinturas representou o impacto da sua doença (Alzheimer) sobre o seu psiquismo.
Há muita fragmentação no último auto-retrato. Prevalência de cores primárias. O rosto lembra um buraco de fechadura. A chave desta porta....aonde foi parar?!
Como diz a sra com Alzheimer que acompanho há 3 anos quando a interpelo sobre algo:
- "Responde você".
Angel



The self-portraits shown have been considered by many observers to openly express a variety of states of mind, including terror, sadness, anger, naked pain, and resignation (Paris Exhibition, 2000).Indeed, as the artist himself noted, “When you are painting it is always about how you feel”.