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quarta-feira, outubro 26, 2005

espirais e polaridade


Foto em 3D do furacão que atingiu RS e SC na quinta-feira, 01 de abril de 2004 - 14:09, distribuída pela NASA. Quem dispuser de óculos especiais (mesmo os mais simples, encontrados no comércio) poderá visualizar em três dimensões o fantástico espetáculo das nuvens e do olho do furacão.
Beleza e destruição
O Fantástico de domingo mostrou uma pesquisa sobre os temores humanos. O povo tem mais medo de ficar doente do que da morte. Detalhe: tem medo de ficar doente e não de perder a saúde.
Ter saúde é maravilhoso, só sabemos quando a perdemos. Polaridades
Tenho pensado muito se há beleza na doença e também como é bom namorar com a saúde.
Angel

domingo, outubro 23, 2005

Proporção áurea e espiral



Concordo que "O código da Vinci" seja Harry Potter para adultos, por isso mesmo a trama ficcional acabou por me prender. Enfim, quem leu e se lembra da citação sobre a série Fibonacci, logo no primeiro capítulo, que ajudou a desvendar o enigma dentro do Louvre? Tentei aprofundar sobre o tema que nos remete a espiral logarítmica e fiquei fascinada, pois no período do pré transplante pintei vários quadros que possuíam alguma forma espiralada ou espirais. Comecei com conchas marinhas e depois figuras abstratas em espiral. Em certo momento percebi que eram formas recorrentes, foi quando o "Código" caiu em minhas mãos.

A proporção áurea citada no livro, que teve base na Geometria, assume a forma de uma espiral. Representa uma proporção de desdobramento, desenvolvimento, no qual o sentido de crescimento e de expansão rítmica no espaço torna-se imediatamente perceptível. O que a diferencia das demais proporções é que não ocorre em eixos verticais e horizontais. O que permanece constante é a reciprocidade das equivalências. Aí entra a série Fibonacci: 1,1,2,3,5,8,13 (progressão numérica, na qual o terceiro número representa a soma dos dois números precedentes) . A proporção áurea já é encontrada em obras de civilizações antigas, na Índia, Egito e Grécia. O padrão da seção áurea não é nada óbvio e revela uma conquista espiritual fascinante e misteriosa. Artistas, como Leonardo da Vinci, que a intuíram eram dotados de uma poderosa inteligência e imaginação, além de sua sensibilidade pela linguagem das fomas e sua lógica.O assunto é inesgotável, remete a geometria, geologia, história, arte, etc, etc, coloquei algumas referências mais adiante e, até aqui, tomei emprestado o livro da Fayga Ostrower (A Sensibilidade do Intelecto). Enfim, o significado "transcendental" desta proporção é que ela se identifica com um padrão cósmico que se manifesta no crescimento das plantas, na teia da aranha, nos insetos, nos animais, nas proporções do corpo humano, no trabalho dos cesteiros, pintores e arquitetos, nas mandalas. O arquiteto Gyorgy Dóczi descobriu que existe "a unidade" dentro da diversificação de formas e das diferenças individuais, nas mais variadas espécies. Algo que faz com que tudo se mantenha um com o Universo". Os padrões harmônicos na natureza são trazidos consciente ou inconscientemente às artes, ao comportamento e à cultura do homem.

Fico imaginando se aquelas imagens teriam alguma relação com os ciclos da doença renal: perda, morte, renascimento, vida, perda...Tendo como pano de fundo o desenvolvimento espiritual, etc, etc, minha cabeça uma sopa de legumes fervilhando. O fato é que eu PRECISAVA daquela imagem, e sentia-me atraída por ela, ainda sinto. Uma imagem simbólica, talvez.

Ontem abri ao acaso um livro que precisei "desencaixotar" por necessidades profissionais, comecei a ler e pimba!

" Uma das imagens mais antigas do mistério da vida, da morte, da transformação e do retorno é a espiral labiríntica, no qual tememos nos perder. O terror é, como coloca Kierkegaard, um elemento intrínseco da condição humana; o que ele exprime é o medo da Vida e o medo de Deus...A liberdade se conquista graças ao contato com a vontade da vida, e não com a tentativa de manipulá-la"

Ainda estou assimilando...sem racionalizar tanto de preferência, imagens

Angel

terça-feira, outubro 18, 2005

"A separação das águas e das terras"



Este afresco da capela Sistina, pintado por Michelangelo chama-se "A separação das águas e das terras". Alguns cirurgiões, e também um nefrologista chamado Eknoyan viram no contorno que envolve a imagem de Deus, a forma de um rim inclinado. Sabe-se que Michelangelo sofria de cólicas renais dolorosas e que o rim era conhecido desde o Antiguidade como o "separador das águas". Na imagem do Criador de Michelangelo há um movimento expansivo de dentro para fora, uma transformação prestes a ser efetivada pela sua vontade facilmente visualizada pela atitude de uma de suas mãos. Há um forte simbolismo na imagem que por incrível coincidência está representado numa posição semelhante ao rim transplantado.

Outras analogias com peças anatômicas na obra de Michelangelo pode ser encontrada no livro " A arte secreta de Michelangelo" de Gilson Barreto.
Sei que há um simbolismo entre espiritualidade, depuração e o rim, mas não conheço outras fontes bibliográficas.

Imagens e palavras





Quis ver esta fenda de perto.
Uma imagem linda
Não temo a queda, temo o que ignoro
Este é um espaço Trans
E o transplante viria como uma salvação. O “milagre” esperado. Uma imagem que nos remete a Deus certamente.
A imagem que temos do milagre é algo vindo dos céus. Ainda que seja intermediado por um “gênio da lâmpada”, surge do desconhecido a realizar nossos desejos. Gênios da lâmpada não existem e milagres não caem do céu.
O transplante veio, suado, chorado, lento, no momento que deveria vir. E este momento foi quando parei de esperar ansiosamente por ele.
Neste período produzi muitas imagens: fotos, pinturas, desenhos. Plenitude e busca de significados pela cor, forma, luminosidade, símbolos e emoção. O essencial deixa espaço para a imaginação do observador.

Imagino muito sobre o momento da cirurgia, nada consigo lembrar conscientemente. Minha última imagem foi a despedida da minha doadora e a entrada na sala do centro cirúrgico. Aspecto lúgubre, sala pequena. Virei o pescoço para o lado direito e percebi uma luz. Vi uma outra sala ao longo de um corredor. Uma enfermeira apareceu e fez os primeiros cuidados.
Não sentia frio, medo ou ansiedade. Enfaixou minha fístula no braço esquerdo. Desejei muito ver um rosto amigo e o cirurgião apareceu. A anestesista entrou e preparou meu braço direito. O médico sorriu pra mim e pegou a minha mão. Olhei para ele, fiquei feliz em vê-lo. Perguntei se poderíamos fotografar a cirurgia, ele anuiu e disse que não via problemas. Sorri para ele, agradeci e não me lembro de mais nada...
Quando acordei, ainda estava tranqüila, sabia que a cirurgia havia terminado e ainda estava na mesma sala. Olhei para enfermeira e perguntei: - Acabou? - Sim. Ela disse. Ainda sonolenta, mas sem dor, senti meu trajeto de retorno. Rostos olhando para mim, o elevador, o tranco, Unidade de transplante renal, quarto. Depois flashes, muita gente ao redor. Minha mãe segurava minha mão. Reconheci o rosto do residente. Pedi sedativo.
- Sedativo Ângela? Você quer analgésico, né?
- Não, sedativo. Quero apagar...
Sabia que a dor viria com tudo logo, logo. E veio.
As fotos foram feitas. Só me senti pronta para olhá-las um mês depois. Mostravam a preparação da cavidade, o rim doado na cuba sendo preparado e o transplante efetivamente. Esta última foto foi algo muito revelador. Meu primeiro sentimento ao vê-la foi de espanto. Um rim tão grande, tão vermelho carmim, tão vivo, enfim, tão diferente das peças anatômicas dissecadas que eu tinha em mente. Sabia que um rim vivo não era pardacento, mas nunca havia visto algo semelhante em mim, talvez. A imagem de minha barriga com um corte que me pareceu imenso e eu não conseguia localizar meu umbigo! Era uma cena limitada: barriga aberta, campo cirúrgico azul cobalto, mãos habilidosas enluvadas e sem rosto, muitas pinças cirúrgicas, um dreno saindo próximo a lateral do corte e sangue, como deveria ser. Transplantada efetivamente! O registro visual do momento. Entre o azul dos campos, transplantado em meu corpo, mais um novo rim. A vibração do vermelho, da vida que mudava de morada. Ambigüidade também, uma parte de outro ser vivo em mim. Além dou outro-Trans.
Rompendo a casca limitada da dor para emergir numa nova realidade. A imagem do rim, sua cor efetivamente vibrante dada pelo meu sangue. Uma nova identidade em plena formação. A “separação das águas” acontecendo novamente em meu corpo.
Não tolerei ver a foto por muito tempo que me pareceu ser longo embora a apreciação tenha sido por breves segundos. Fechei-a e não retornei a ver. Não mostrei a ninguém e fiquei assimilando na mente aquela imagem surpreendente. Quando a revi já não produziu o mesmo impacto, olhei sem medo e fiquei percebendo os detalhes. A imagem do transplante é repleta de significados; a estética luminosa e vibrante do vermelho, a forma harmoniosa, os esforços empregados em conjunto em favor de um ideal. Transcendência.
Ter visto a foto do transplante teve um impacto muito positivo sobre mim. Uma representação do momento do qual não tenho lembrança consciente, a visão do órgão que renova meu sangue todos os dias.
O cérebro não distingue entre o que vê e o que lembra.
O que a imagem observada nos inspira?
Quais lembranças serão armazenadas?
O que estamos construindo mentalmente?
O quanto da imagem observada da foto do transplante tem me influenciado para a incorporação e aceitação do novo órgão?
O conhecimento é mais interessante do que a ignorância.
Enfim...Imagens

Ângela, 28/08/2005

quarta-feira, outubro 12, 2005

Congresso Internacional de doação de órgãos

O VIII Congresso Internacional de Doação de órgãos será em gramado de 3 a 5 de Dezembro. Visite o site.
Angel