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sábado, novembro 11, 2006

Cinco minutos


A idéia de viajar a noite de ônibus para SP evitando a confusão dos aeroportos não foi boa. Não dormi nada, cheguei cansada. Vir no vôo das oito resolveria bem o problema.
Hospital das clínicas, hospital de excelência da América latina. Na entrada vejo um grupo de residentes. Movimento de greve, penso. Nos corredores muitas pessoas, muito sofrimento. Histórias diferentes. Tento organizar meus pensamentos, preciso colher sangue para o protocolo de pesquisa, tomar café e remédios, colher um exame no lab do subsolo. Escolho tomar café. O número de residentes agora aumentou, procuro por alguém conhecido. Não há ninguém da Nefro. Leio a primeira página da "Folha de SP", Lula, Palestina, volley feminino, metrô em expansão...Tem um médico me flertando na mesa da frente. Consulto o relógio. Vamos ao lab.
Dez horas, urologia, minha senha brilha no painel. Dirijo-me a sala número 5, será uma consulta breve. Não mais que cinco minutos, tempo necessário para minha médica olhar exames, perguntar sobre minhas queixas e fazer modificações nos medicamentos. Minha queixa são meus ovários, doem muito na menstruação. Eles parecem raivosos comigo. Talvez um aviso sobre minha fertilidade, desejo de procriação, perpetuação que não virá. Não digo nada disso, digo o que ela quer ouvir. Com o tempo aprendi a me poupar. Saio como entrei, pela porta da sala número cinco. Admiro minha médica, mas não acredito mais que seu comportamento em relação ao tratamento vá mudar, tb não acredito que cabe a mim modificar seu tempo e forma de estar comigo e demais pacientes. Ambas fazemos a nossa parte, ela trata, eu aparento ser dócil.
Lá fora os residentes protestam em altos brados, consigo ouvir suas queixas. São explorados como profissionais, a jornada de trabalho é aviltante, as condições de trabalho são ruins e não tem direito a 13 salário, nem salário férias. Os futuros médicos concursados de amanhã.
Quem explora quem?
Qual o contrato de trabalho estabelecido pelas instituições para administrar a doença?
Acho que estou um pouco cansada, preciso repensar com calma o que significa tratar e ser tratado numa instituição pública.
Angel

Um comentário:

Angel disse...

Entendo, é o mesmo em Portugal, EUA, Japão, Brasil. É difícil ouvir a pessoa e não a doença numa cultura como a nossa

Um beijinho

Angel