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quinta-feira, agosto 28, 2008

P2




Hoje reuni meus alunos do semestre passado e comemorei duas semanas de ativação ouvindo novas vozes. Foi muito divertido e um pouco emocionante. A personalidade de cada um está impressa na voz, ou seria ao contrário?
Sinto-me mais segura, menos vulnerável ao ambiente. Posso perceber qd me chamam e minha voz está bem diferente, todos notaram.
Um professor da Física lembrou que minha voz estava alta antes do implante e também minha amiga fono. Fiquei feliz e constrangida. Berrei tanto assim?
Este programa que estou testando parece ser bom para ouvir vozes na TV. Parece direcionar o som para a voz humana. Matei as saudades das vozes conhecidas do Bonner e da Fátima Bernardes do Jornal nacional.
Algumas vozes caem tão bem, tão mais naturais, outras, geralmente a das mulheres são monótonas, artificiais e anasaladas. O grave cai bem, as vozes masculinas são as mais agradáveis, melódicas e prosódicas.
No atendimento com minha fono na UFRJ, estivemos em sala acústica e foi o paraíso na Terra. Também participei de uma reunião hoje em uma sala silenciosa e me senti tão poderosa, tão ouvinte. Posso entender o que está sendo explicado e posso interagir, tomar decisões. O surdo sofre muito com isso, com esse atraso da informação. A mensagem fica pelo caminho, truncada, sendo por vezes, muito difícil participar de encontros/reuniões onde decisões precisam ser tomadas. Sofri muito com isso, de tal forma que já estava começando a me ausentar destas situações totalmente fora de controle para mim.
A minha sala é terrivelmente barulhenta. Ainda não sei como resolver isso. Precisei baixar a sensibilidade e o volume várias vezes nesta semana. Devo dizer que o som está bem mais alto de P2 em diante.
Embora esteja dependente da leitura labial, consegui falar ao telefone com algumas pessoas e cheguei mesmo a acreditar que tem sido mais fácil “ouvir” ao telefone. Depois fiquei imaginando se a minha dependência da leitura labial poderia mascarar um pouco os sons, diminuindo minha atenção auditiva.
È sempre muito gratificante ouvir sem ler lábios. Isso ocorreu algumas vezes.
Durante minhas caminhadas ouvi as vozes dos passantes, diferentes sons do trânsito (motor, buzinas e sirenes) e o som do lixeiro varrendo o lixo. Tudo isso me fascina, pois não faziam mais parte de meu mundo. Eu estive em outro lugar e agora estou retornando.
As vozes na rádio estão voltando como lembranças antigas que dizem:-Olá, lembra-se de mim? Sim! Lembro-me, sejam bem vindas!
Uma grande alegria foi ouvir a voz de meu irmão de doze anos, filho de meu pai com a minha doadora.
Será que estou voltando para casa?
Ou estarei indo de encontro a um novo lar?
Ontem ver era ouvir, hoje ouvir é ver.
Angel

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